É comum, por parte do público da ficção científica, da
fantasia e do terror e etc., o uso do termo “de gênero”. Ainda que a expressão
careça etimologicamente de coerência, serve para marcar terreno quando é negado
espaço, quando algo é chamado de entretenimento frívolo com base em uma
concepção insustentável e empoeirada de arte. Mas fala-se em “literatura de
gênero” e “cinema de gênero”, mas não em “quadrinho de gênero”, “série de
gênero” ou, menos ainda, “jogo eletrônico de gênero”. Qual o motivo?
Nos quadrinhos, nos games e nas séries televisivas a
produção de ficção científica, de fantasia, de horror, de histórias de detetive
e policialescas é quantitativamente expressiva. Dessa forma, o “de gênero” se faz
algo desnecessário, redundante. É até mesmo difícil encontrar exemplos que não
possam ser prontamente enquadrados em algum gênero, conforme compreendido por uma comunidade de fãs.
Mas os exemplos existem, e não devem ser desconsiderados.
Nos quadrinhos, por exemplo, às vezes se esquece de que há vida inteligente
além dos super-heróis da DC e da Marvel. Conhecer a produção que escapa à
pronta categorização genérica não promove, contudo, o uso do nosso “de gênero”.
Ou seja, o critério quantitativo não esclarece por completo a circunstância.
No cinema e na literatura ainda predomina uma conformação
estética beletrista, comprometida com os padrões instituídos de bom gosto. Que
o diga quem produz ou consome ficção de gênero e já teve que enfrentar o conservadorismo
vigente em boa parte das discussões acadêmicas sobre literatura ou o pedantismo
que contamina os cineclubes mundo afora.
Ignorados ou refutados pela “intelligentsia” (com ênfase nas aspas), os quadrinhos, os games e a produção televisiva em geral não
precisam demarcar uma diferença, uma cisão. Justamente por serem ignorados, não
se faz necessário marcar terreno; não é preciso dizer “isto é de gênero, não
serve para vocês beletristas”.
Não se pode negar que há exceções, como a contemporânea
abertura da academia aos estudos da produção de gênero, dos quadrinhos e, numa
menor escala, dos games. Trata-se de uma abertura ainda muito tímida, mas que
certamente tende a crescer – embora não com a velocidade que esperaríamos.
Aqui no Ficção de
Gênero, vou traçar notas sobre essa produção que tem seu espaço negado
pelos bastiões do bom gosto. Como esta, serão notas que não têm o interesse de
esgotar o assunto ou de assumir objetivos totalizantes. Notas, apontamentos
apenas.
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