Jonas
Peregrino, protagonista do recém-lançado romance de ficção científica militarista
Glória Sombria, já tem história. O
primeiro conto do personagem, “Batalhas na Memória” foi publicado na semiprofissional
Scarium MegaZine n.º 19, de 2007. Seguiram-se as noveletas “Descida no
Maelstrom”, em Futuro Presente
(2009), antologia organizada por Nelson de Oliveira; “Trunfo de Campanha”, em Assembleia Estelar: Histórias de Ficção
Científica Política (2011), com organização de Marcello Simão Branco; “A
Alma de um Mundo”, em Space Opera II:
Jornadas pelo Hiperespaço em uma Galáxia Não Muito Distante (2012),
organizada por Hugo Vera e Larissa Caruso; e “Tengu e os Assassinos”, em Sagas Volume 4: Odisseias Espaciais
(2013), com organização de Cesar Alcazar.
Edições que acolheram as narrativas curtas de Jonas Peregrino
Esses
cinco textos da série intitulada “As Lições do Matador” não são os primeiros de
Jonas Peregrino, na cronologia ficcional criada por Causo. Neles, já nos
deparamos com um protagonista experiente, calejado, praticamente alheio a dúvidas ou
indecisões. Trata-se de um herói pleno, capaz de solucionar conflitos de ordem
moral, disposto a fazer valer o que considera justo sem hesitar. Nessas
narrativas, seus parâmetros morais e de conduta já estão bem estabelecidos, e o
personagem age seguro e confiante conforme os conflitos e os impasses
acontecem.
Glória Sombria, cronologicamente, é a
primeira aventura de Jonas Peregrino. O romance pode ser lido independentemente
sem prejuízos, embora a leitura das narrativas anteriores forneça um quadro
mais amplo do cenário em que Peregrino se movimenta. Em Glória Sombria, Causo consegue
caracterizar o personagem de forma inteligente: não extrai dele seu lado
heroico, honrado, para apresentar sua inexperiência. Como herói, afinal, é que
os leitores identificam Peregrino, e mostrá-lo ainda sem a fibra conhecida o
descaracterizaria sobremaneira. O personagem hesita e chega a se perturbar com
as consequências de seus atos em Glória
Sombria, mas é tão incorruptível quanto o Peregrino mais velho, aquele das
narrativas curtas.
Diz
o texto do marcador de página encartado na edição belamente ilustrada pelo veterano Vagner Vargas:
No século 25 a humanidade já avança
profundamente em direção ao núcleo da galáxia, a partir do seu berço, o Sistema
Solar.
São quatro as Zonas de Expansão
Humana, mas é na quarta -- a mais rica e vasta, conhecida como "A
Esfera" -- que os diversos blocos políticos da Terra encontram o seu maior
desafio: armadas de naves-robôs empenhadas em aniquilar todas as civilizações
espaciais que cruzem o seu caminho, em nome da supremacia absoluta dos seus
criadores.
Glória Sombria narra a primeira ação de
Peregrino na Esfera. Já é um guerreiro, mas não possui nenhuma experiência nos
confrontos com as naves-robôs enviadas pelos alienígenas tadais – inimigos nunca
vistos pelos humanos. Convocado pelo Almirante Túlio Ferreira, tem a missão de criar
uma nova unidade de combate. A relação com o Almirante é tensa e, a princípio,
Peregrino antipatiza com sua postura. O romance desenvolve a relação entre ambos
em um crescendo sutil, com raro cuidado na caracterização – o que define os
personagens e os torna reconhecíveis é o que vai provocar cada atrito (e,
eventualmente, cada sincronia).
Não
é apenas com os alienígenas que Peregrino precisa se preocupar nessa sua
primeira e já grandiosa missão. Como que para compensar a falta de traços
distintivos dos antagonistas tadais (cuja natureza é um mistério guardado para
o futuro da série “As Lições do Matador”), Causo coloca outros problemas para
seu protagonista, estes de rostos bem definidos e, até, familiares. Há
traições, inveja e intrigas entre as próprias fileiras dos guerreiros humanos.
E Peregrino, para resolver os desafios ao seu comando e à sobrevivência da raça
humana, precisa tomar algumas decisões de resultados amargos, com danos
colaterais. Ao final do romance, já encontramos um protagonista com calos a
mais. A transformação do personagem, conduzida com naturalidade, não soa como
tal; parece, sim, um amadurecimento.
Glória Sombria pode, sem dúvidas, ser
chamado de “ficção científica brasileira”, e não apenas de “ficção científica
do Brasil”. A diferença entre as duas expressões pode não saltar aos olhos, mas
demarca a distinção entre a produção que apenas é produzida aqui em emulação
aos autores estrangeiros e a que de fato consegue apresentar traços distintivos
nacionais. E a origem pantaneira de Peregrino não é o maior deles. O sense of wonder (senso
de maravilhamento, em tradução livre) tão caro ao autor é dado pela
incorporação de elementos brasileiros ao cenário de batalha no espaço sideral:
as descrições das espaçonaves de guerra com pinturas que remetem a animais da fauna
brasileira são um exemplo de destaque.
Causo
e a Editora Devir prometem dar continuidade à série. E mais: “As Lições do
Matador”, futuramente, deve ter crossovers
com outra série de narrativas de Causo, “Shiroma – Matadora Ciborgue”. De que
forma isso vai se dar ainda está para ser contado, mas há um prenúncio em Glória Sombria: a presença de
personagens “aumentados”, ciborgues tais quais Shiroma. Para enriquecer a experiência,
há um site que fornece detalhes do universo ficcional desses protagonistas tão
díspares, neste link. Esperemos que este primeiro romance de Jonas
Peregrino seja uma mostra do que está por vir.
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